Vinton Cerf, o "pai da net", diz que
o principal valor da rede de computadores
é ser a mesma para todos
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 Daniel Alexandre
                                         
                                           Roberto Settom


Vinton Cerf, matemático e cientista da computação de 63 anos, é conhecido como o criador da internet. Modestamente, ele declina do título. "Sou apenas um dos pais da rede", diz. O fato é que, em meados dos anos 70, Cerf ajudou a desenvolver o que hoje é conhecido pela sigla TCP/IP (o equivalente em inglês a protocolo de controle de transferência/protocolo de internet). Trata-se de um conjunto de regras, padrões e especificações técnicas que permitem a troca de informações entre computadores de diferentes marcas e tamanhos. Hoje, ele atribui grande parte do sucesso da rede ao fato de ela ser a mesma para todos. "Isso independe do status econômico e social das pessoas", diz. Atualmente, Cerf preside a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), organização responsável pelo gerenciamento e pela regulamentação da internet, e faz parte da cúpula do Google.  

VEJA: A seu ver, por que a internet cresceu tão rapidamente?
VINTON CERF: Antes da internet, o modelo mais comum de comunicação era o um-para-um (one-to-one). Uma pessoa trocava informações com outra e ponto. É isso que acontece numa ligação por telefone ou numa carta. A internet criou um padrão novo, o "muitos-para-muitos", e com uma vantagem adicional: as pessoas podem interagir nessa comunicação, tanto individualmente como em grupos. Para mim, essa é a mais fundamental das propriedades da internet. Nem os meios de comunicação de massa fizeram coisa parecida.

VEJA: Que outras mudanças a rede provocou?
CERF: A internet permite que a maior parte das aplicações e ferramentas seja acessível a qualquer um. Assim, toda pessoa é livre para inventar novos serviços. Outra novidade introduzida é o fato de não ser um meio controlado por poucas fontes, mas, sim, um sistema de informação que permite a contribuição de todos.

VEJA: Há pessoas que, por motivos ideológicos, defendem a divisão da internet. O que o senhor acha desse tipo de idéia?
CERF: É vital que mantenhamos uma internet global. Podem até existir redes privadas, como ocorre na área corporativa, mas o maior valor do sistema está no seu alcance. Seria uma grande perda se o acesso mundial acabasse. É simples. Pense no valor do sistema de telefonia. Ele existe porque podemos telefonar para qualquer pessoa no planeta. O mesmo é verdade para a internet, independentemente de seu status econômico ou social. Como diz o lema da Sociedade da Internet (que reúne mais de 100 organizações, 20 000 pessoas de 180 países): a internet é para todos.

VEJA: Tudo está on-line: a telefonia, o cinema, os jogos, a televisão, os negócios, o mercado financeiro... A internet agüenta tudo isso?
CERF: Agüenta. E, acredite, não há indício de que estejamos perto de um limite. A internet vem se mostrando incrivelmente flexível. A rede tem crescido brutalmente tanto em seu coração como nas pontas nos últimos vinte anos. Isso ainda vai continuar.

VEJA: Qual será o futuro da internet?
CERF: É impossível prever a longo prazo. Se essa pergunta me fosse feita há trinta anos, quando a rede surgiu, eu jamais imaginaria que se transformaria no que é hoje. Mas podemos observar padrões. A curto prazo, haverá mais acesso móvel à internet. Teremos também um uso cada vez mais variado, com mais vídeo e mais áudio. Mais aparelhos vão estar conectados à rede e entre si. Poderemos começar uma transação ao telefone e ver o resultado em um computador de bolso, um PDA.  

VEJA: Como é possível melhorar a rede?
CERF: Temos de oferecer muito mais segurança. Temos também de melhorar nossa capacidade de autenticar com quem estamos trocando informações.

VEJA: O que é a internet interplanetária?
CERF: É um projeto que começou há oito anos no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa. Com ele, será possível enviar um número sem precedentes de informações todas as horas do dia e da noite, por exemplo, de Marte para a Terra. E isso é importante para nossas pesquisas espaciais. O projeto está indo muito bem. Já melhoramos a tecnologia necessária para que se use a internet no espaço. Há uma nave em volta de Marte, a Mars Reconnaissance Orbiter, que, com outras naves, formará uma dessas redes de comunicação contínua.  

VEJA: Qual a origem do termo internet?
CERF: Quando eu e alguns colegas estávamos tentando conectar três redes diferentes, nós chamávamos o que fazíamos de interneting (algo como criando redes entre redes, numa tradução livre). O nome curto para isso ficou internet.